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quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Um passeio pelo deserto dentro do Centro Cenotécnico

E eis que acontece outro daqueles momentos especiais que me deixam orgulhoso de ser quem eu sou e fazer o que eu faço: 



Como alguns devem saber, hoje inicia oficialmente a ocupação de despedida do Centro Cenotécnico, espaço histórico de Porto Alegre que infelizmente será demolido devido às obras da Copa do Mundo que acontecerá em 2014 no "país do carnaval e do futebol". Pois o tal projeto de ocupação irá a
presentar, em dias alternados, duas das minhas peças mais recentes: O MAPA_, elogiada odisseia levada a cabo pelo grupo Teatro Geográfico, e Os Plagiários - Uma adulteração ficcional sobre Nelson Rodrigues, espetáculo que foi co-dirigido por 4 grandes companhias de teatro da cidade e que teve lotação esgotada em suas 4 únicas sessões no último POA Em Cena. (Pra quem ainda não tava sabendo, a primeira vai rolar durante a semana, e a segunda nos findis, sempre às 21h, até o dia 04 de Novembro... tem várias informações espalhadas aqui neste blog). 




Mas o que eu queria contar mesmo é que ontem, enquanto estava lá no Centro Cenotécnico para acompanhar a função dos ensaios de ambas as peças, com os respectivos elencos e pessoas da produção indo de um lado pro outro na correria e empolgação habituais, aconteceu um momento que dificilmente irá se repetir na minha carreira como dramaturgo: pois eu, já exausto por estar desde manhã entre aulas que tive, aulas que ministrei, visitas à casa de amigos e outras voltas necessárias, enfim desabei na cama que faz parte do cenário do quarto de hotel onde Port e Kit, personagens de O MAPA_, ficam hospedados no início da sua melancólica viagem pelo norte da África. Enquanto estou lá, meio dormindo, meio sonhando, ouço a música de "Os Plagiários" ecoando naquele recinto cuidadosamente mobiliado. Um pouco confuso, abro então os olhos e naqueles breves segundos em que tento reconhecer o lugar onde estou me percebo parte das duas coisas e de uma maior ainda: dessa vida no Teatro - uma vida que só acontece porque tem muita gente apaixonada fazendo isso junto com a gente. Pois é nesses momentos, quando se está completamente solitário (mas nunca sozinho) num quarto de hotel no Tânger e ouvindo uma música brasileira que invade o ambiente é que percebo a potência da experiência que só o Teatro possibilita a quem, assim como eu, se dedica a escrever para esse lugar - que não é apenas um prédio que um dia pode ser colocado abaixo quando bem entenderem os governantes, mas uma ideia de possibilidade e permanência. E aí então é que tenho a certeza íntima que pretendo fazer isso até o final da vida, seja esse fim no meio do deserto ou num estádio lotado.


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