"Porque às vezes as coisas não precisam de respostas, elas precisam de silêncio."
No último domingo à noite (22/09), em Belo Horizonte, participei de uma ação incrível ao lado dos meus corajosos amigos e colegas dramaturgos que fazem parte do coletivo [ Temporário 6 ] - André Felipe, Diogo Liberano, Gustavo Colombini, Lígia Souza Oliveira e Vinícius Souza: sequestramos o tempo no Cenas Curtas do Galpão Cine Horto – tradicional mostra que tem como regra principal apresentar cenas de até 15 minutos. Inspirados por um infortúnio ocorrido horas antes, nossa intenção foi a de fazer o tempo parar de alguma maneira para que assim conseguíssemos dar conta da avalanche de pensamentos e sensações que havia nos imobilizado parte do dia. Apesar do tipo de sensibilidade e cognição expandidas sempre se instaurar quando estamos juntos, dessa vez tínhamos o compromisso de compartilhar o resultado desse encontro com o público da mostra, coisa que nossas ações anteriores (CEP, as residências artísticas, as escritas de impressões em lugares públicos, etc.) não objetivavam.
Sob o título de A ESTRUTURA DOS INTERVALOS DE TEMPO ENTRE AS VIRGULAS DO TEXTO QUE EU NUNCA ESCREVI e partindo da premissa de criar um “um acontecimento, um crocodilo, uma estrutura, um imprevisto, um motim, um treco”, cada um de nós se dedicou a fazer/escrever algo para lidar com o medo que se abateu sobre nossas cabeças (e braços e pernas e olhos e bocas e entranhas). E assim, juntos, lutamos para deter – ao menos por um breve instante – a força inexorável de Cronos, cujo apetite bestial devora a tudo e a todos. Nossa tentativa (pois desde o início sabíamos que – numa batalha desproporcional como essa – o máximo que se consegue é tentar) era mostrar que o Tempo, assim como pode ser entendido como realidade objetiva ou como uma divindade cruel, também pode ser entendido como espaço compartilhado, onde impera a abstração e o acordo recíproco.
E nesse sentido, creio, atingimos o nosso objetivo (leia as críticas publicadas clicando AQUI e AQUI), pois apesar de algumas manifestações contrárias e exaltadas próximo ao final da nossa ação, o que me resta agora é a lembrança de todos nós, os seis dramaturgos e o público, frente a frente, em silêncio, se olhando – silêncio de troca, de reconhecimento mútuo. E, tal como escreveu certa vez Virginia Woolf, “[...] é provável que, quando as pessoas falam alto, os eus (dos quais pode haver mais de dois mil) tenham consciência de sua divisão e procurem se comunicar, mas, quando a comunicação é estabelecida, ficam em silêncio.”
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